Um conto em três contos – Ela por Ela

escreverEu nunca soube me expressar.Talvez por timidez, ou porque as pessoas parecem não querer me ouvir. Eu sempre fui boa em ouvir. Sempre estive ali. Pronta, disponível, inteira. Acho que todo mundo gosta mais de falar do que de ouvir. Talvez por isso, eu goste de ouvir. Sempre fiz parte do grupo minoritário. Eu quis muito falar. Tenha tanta coisa pra dizer. Mas, nada disse. Sempre me calei. Me calo. E a vontade de falar me agredia por dentro. Também tinha conquistas para gabar-me, tristezas para lamentar, estórias de amor, piadas, mentiras… Qualquer coisa. Qualquer fala. O que não tinha de fato, era alguém para ouvir.
Eu nunca soube me expressar, olhar nos olhos. As palavras não saiam. Algo as sufocavam por dentro. E o que era pra ser dito, se transformou em traço, em letras. Aí eu conto um conto. Dois, três, vários. Disfarço-me de personagem. E aqueles que não souberam me ouvir, me leem, curtem, releem.
Eu nunca soube me expressar… Eu nunca muita coisa. Nunca fui a mais bonita da classe. Nem a mais inteligente. Nunca fui a mais cobiçada entre as amigas. Nunca, nunca, nunca. Eu fui a filha do meio. De modo que também não era o orgulho da mãe, nem o xodó do pai. Ser do meio, é só o quase. Quase a mais velha. Quase a caçula. E assim como Veríssimo, tenho um certo desgosto pelo quase…
Porém foi o quase, o nunca, o talvez, quem me inspirou. As minhas pequenas frustrações e tristezas foram minhas companhias diárias.
E quando as pessoas me leem e perguntam o porquê meus contos são tão tristes, eu respondo:
– A tristeza é minha fonte de inspiração mais profunda e fértil!

“…Eu nem sei porque me sinto assim. Vem de repente um anjo triste perto de mim…”