Um conto em três contos – Ela

Já era hora do sol raiar. Mas nesta manhã ele resolveu descansar um pouco e não se fez presente. Pela milésima vez, o despertador do celular tocava.Era definitivamente hora de se levantar. Ela, porém, reativou a função soneca do aparelho. A manhã estava tão preguiçosa e fria, e silenciosa e vazia. A vontade de se levantar não aparecia. A cabeça doía. Latejava incessantemente… Mais uma vez, o despertador. Num ato de extrema fúria, apanhou o aparelho e quis lançá-lo contra a parede. Se conteve a tempo. Sentou-se na cama, segurando a cabeça que parecia pesar uma tonelada, com ambas as mãos.
O espelho a sua frente refletia aquela pobre imagem um tanto assustadora; cabelos desgrenhados, olhos vermelhos e olheiras profundas, rímel escorrido pela face e batom borrado. Cheirava à álcool. Ela assustou-se ao se ver refletida um tanto desfigurada. Levantou-se e desviando-se dos objetos espalhados pelo chão do quarto, aproximou-se do espelho. Olhava-se fixadamente. Estava um lixo! O quarto, a aparência, a vida. Enquanto se olhava, repetia para si mesmo: ” -É só hoje e isso passa. Amanhã é outro dia…”
E enquanto mentia para si mesmo, tentava confortar-se com sua vidinha medíocre. As lágrima vinham, o rímel escorria, a cabeça doía…
Respirou fundo, prendeu os cabelos, secou as lágrimas. Começou a revirar os armários, jogando para fora todas as roupas. Abriu gaveta por gaveta da cômoda. Perdido em tanta bagunça, encontrou o que procurava. Sentou-se no chão abraçando ambas as pernas com uma das mãos e acendeu um cigarro. Há alguns dias, havia decidido parar de fumar, mas diante de tudo que lhe acontecera na noite passada, a nicotina era um de seus menores males…
“E quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima.”

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